Ameaças à biodiversidade
sábado, novembro 07, 2009 | Author: Jorge Ramalho
Ameaças à biodiversidade

Começo este trabalho citando uma publicação de um estudo feito pela EU em 17/7, para avaliar o estado do património natural nos 27 Estados-membros, concluindo que “a UE irá muito provavelmente falhar o objectivo para 2010 de estancar a perda de biodiversidade”.

Ao que se sabe, na Europa dos 27, particularmente ameaçados estão os ecossistemas agrícolas, as zonas húmidas e a orla costeira. Segundo o mesmo estudo, apenas 17% das espécies e dos habitats mais importantes da UE viram o seu estatuto de conservação melhorado.

A conclusão foi retirada de dados fornecidos pelos diversos governos da comunidade económica e analisa a situação de centenas de habitats e mais de um milhar de espécies de plantas e animais protegidos pela Directiva Habitats da União Europeia (EU).

Isso no momento em que assistimos ao desenvolvimento de projectos significativos para a conservação da biodiversidade, por parte de organizações internacionais (vejam o trabalho da SPEA ou da BirdLife International, sobre o declínio das aves nos meios agrícolas), surge este relatório demolidor da EU que atira por terra toda e qualquer esperança de melhoria sabendo que os habitats dependentes da gestão agrícola e agro-florestal estão particularmente ameaçados, quando comparados com outros.

Cá entre nós, a nossa agricultura é subsidiada para não produzir ou para produzir pouco. É caso para perguntar, qual é o papel da agricultura em todo este processo! Ninguém acredita que não se consiga harmonizar a protecção da biodiversidade com a produção agrícola. Poderá isso sim, haver pouca sensibilidade dos políticos para o assunto, apesar de todos apregoarem que o meio ambiente deve ser protegido. Mas então, e a PAC? Será que a Política Agrícola Comum, pode vir a ser vista como uma das ameaças para a natureza e a biodiversidade na Europa?

As pastagens extensivas e os pousios, habitats muito importantes para a natureza, estão perigosamente ameaçados pela intensificação e pelo abandono agrícola.
Construímos barragens nos rios e drenamos os pântanos. Pavimentamos o solo para construir cidades e estradas.

A cada ano que passa, as florestas da Terra são reduzidas em 16 milhões de hectares, sendo que as perdas predominam nas florestas tropicais, onde os níveis de biodiversidade são elevados. Os pântanos e a sua ecologia abundante foram reduzidos pela metade no último século. Outros ecossistemas terrestres e de água doce sofreram degradações por causa da poluição. Os desertos aumentaram, invadindo áreas que antes tinham vegetação, num processo muitas vezes acelerado pelo uso excessivo dessas áreas como pasto para animais domesticados.

O planeta enfrenta uma crise de extinções em massa e redução da sua biodiversidade – em quase todos os reinos da natureza. As explicações para esta tendência, que é uma ameaça global à biodiversidade, vão da destruição natural ou humana dos habitats, à captura ilegal, às doenças infecciosas ou à poluição e às alterações climáticas. Milhares de tipos de animais e plantas estão a desaparecer a grande velocidade, sobretudo devido ao impacto da acção humana. Uma em cada três espécies está em perigo. Répteis e anfíbios estão entre os mais afectados.

O consenso entre os biólogos é de que estamos a avançar em direcção a outra extinção em massa que poderia equiparar-se às últimas grandes cinco. A possível sexta extinção em massa é diferente por ser causada em grande medida pelas actividades de uma única espécie. É a primeira extinção em massa que os seres humanos viverão em primeira mão e não simplesmente como observadores inocentes.

Embora os cientistas não tenham certeza do número de espécies que habitam o planeta hoje, suas estimativas superam os dez milhões. Ainda assim, milhares de espécies desaparecem por ano, desde os menores microorganismos até aos grandes mamíferos. Algumas desaparecem até antes de sabermos de sua existência.

A exploração directa de organismos por seres humanos, como a caça e a colheita, ameaça mais de um terço dos pássaros e mamíferos. Entre outras ameaças à biodiversidade destacam-se as espécies exóticas.
No rasto da globalização, de “boleia” em aviões ou navios ou até em solas de sapatos ou inocentes vasos de flores, um novo problema ambiental e económico se alastra pelo planeta. São as espécies exóticas invasoras: animais, plantas ou microorganismos introduzidos num ecossistema do qual não fazem parte originalmente, mas onde se adaptam e passam a dominar, prejudicando processos naturais e os organismos nativos.

A extinção de espécies essenciais poderia causar impactos em cascata por toda a cadeia alimentar. Como escreveu John Donne, "nenhum homem é uma ilha". O mesmo se aplica às outras espécies com as quais compartilhamos o planeta. A perda de qualquer espécie individual na cadeia da vida pode afectar várias outras.

Ecossistemas saudáveis dão-nos apoio com diversos serviços, sendo que os mais fundamentais são o suprimento do ar que respiramos e a filtragem da água que bebemos. Eles nos dão alimentos, remédios e abrigo. Quando os ecossistemas perdem a sua riqueza biológica, eles também perdem resistência e tornam-se mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas, invasões de espécies estranhas e outros distúrbios.

As nossas vidas estão inevitavelmente ligadas à biodiversidade e a sua protecção é essencial para a nossa própria sobrevivência. É necessário definir e implementar estratégias de conservação eficazes, para benefício das pessoas e da natureza.
Sabemos que a preservação pode funcionar e devemos apostar nela. Todos juntos e a remar para o mesmo lado, somos capazes de dar um bom contributo em prol da biodiversidade. Costuma-se dizer que o nosso pouco, é sempre melhor que nada, e é sempre um incentivo, um encorajamento. Isto só mostra que muito mais precisa de ser feito para apoiar o trabalho de milhares de pessoas entusiásticas que todos os dias trabalham para garantir a diversidade da vida neste planeta.

O desafio da crise de extinção requer a atenção e acção de toda a gente, do sector privado, dos governos e legisladores de forma a garantir que a biodiversidade global se mantém intacta para as gerações futuras.

É minha convicção que, se conscientemente evitarmos a destruição de habitats e atenuarmos os impactos das mudanças no uso da terra, reduzirmos a exploração directa da fauna e da flora e desacelerarmos as mudanças climáticas, poderemos ajudar a interromper a debilitação dos sistemas de apoio à vida, dos quais dependemos. Embora esta seja a primeira vez na história em que uma única espécie consiga precipitar um evento de extinção em massa, também pode ser a primeira vez na história em que uma única espécie pode agir para impedir tal evento.
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3 comentários:

On 16 de novembro de 2009 às 12:27 , Luis Rodrigues disse...

Olá Jorge

Relativamente à questão que apresentas: Mas então, e a PAC? Será que a Política Agrícola Comum, pode vir a ser vista como uma das ameaças para a natureza e a biodiversidade na Europa?

Faz todo o sentido. Agora! Parece-me inevitável a intensificação dos sistemas de produção, isto relativamente à agricultura. O abandono dos sistemas tradicionais de produção primária assim o obriga.

Acho que é um assunto pertinente a ser discutido.
Devo dizer, no entanto, que a U.E., no que diz respeito à PAC ou à PCP, apresenta medidas restritivas, de conservação, relacionadas com a protecção dos recursos.

O problema é que a clivagem entre Bruxelas e a Comunidade Rural ou Piscatória é tão grande que muitas vezes as pessoas são obrigadas a alterar os seus hábitos sem os compreenderem.

Luis Rodrigues

 
On 10 de janeiro de 2010 às 00:12 , Jorge Ramalho disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
 
On 10 de janeiro de 2010 às 00:31 , Jorge Ramalho disse...

Olá Luís,

Quanto à questão que me colocas, deixo-te aqui o parecer da Associação dos Jovens Agricultores de Portugal Associação dos Jovens Agricultores de Portugal. Vais ter que disponibilizares uns minutos para o leres, mas é bastante elucidativa da temática em causa.

Como incentivo à leitura, transcrevo-te um breve trecho do que diz a AJAP.

"Consequências da nova PAC para a agricultura Portuguesa

O impacto negativo que a nova PAC poderá ter na agricultura europeia far-se-á sentir, concerteza, com maior intensidade no nosso país. Isto porque: a nossa agricultura é, à partida, mais frágil que a média europeia; os mecanismos de regulação da oferta, que já hoje limitam a expansão de actividades como o trigo duro, a vinha para vinho, a beterraba açucareira, os bovinos e o leite, permanecerão em vigor; a regra de que cada hectare de produção elegível que um agricultor declare para o pagamento único pode ser utilizado para qualquer actividade, excepto para a produção de fruta, hortícolas e batata de consumo corrente, é muito restritiva para a agricultura portuguesa, na medida em que nos impede de “virar a agulha”, precisamente, para aquelas actividades em que teríamos vantagens comparativas; apesar do objectivo essencial visado com a modulação ser o da melhoria da coesão económica e social de todo o espaço europeu, a verdade é que o mesmo está, à partida e em grande parte, comprometido, pelo simples facto de cada Estado-Membro receber, pelo menos, 80% ( no caso alemão serão mesmo 90%) dos fundos gerados pela aplicação do mecanismo no seu território10.

Este último ponto é claramente desfavorável para Portugal, no seu todo, e para o seu sector agrícola, em particular".

Obrigado pela tua intervenção.